Estamos vivendo um período de grande comoção. A mudança de muitas formas - tecnológica, geopolítica, social, ambiental - está se acelerando. Os riscos globais estão se intensificando, mas a nossa capacidade de resposta coletiva está diminuindo.
Isso está criando um ambiente muito exigente e volátil para os negócios, o que dificulta que as empresas continuem com os modelos de negócios que foram bem-sucedidos no passado. Nos últimos cinco anos, os lucros das 700 empresas multinacionais mais importantes foram reduzidos em torno de 25%. As vulnerabilidades macroeconômicas se acentuaram em seu foco e apontam para uma deterioração do ambiente econômico internacional. As empresas também enfrentam maior incerteza sobre as regulamentações que dificultam a capacidade de tomar decisões de negócios e investimentos cruciais. Em geral, estamos operando em um contexto que apresenta um risco significativo, mas também uma oportunidade importante para as empresas que conseguem se adaptar às mudanças emergentes.
Os riscos globais que mais preocupam
O aspecto mais surpreendente do Relatório Global de Riscos deste ano, preparado pelo Fórum Econômico Mundial com o apoio da Marsh & McLennan Companies e outros parceiros, é o nível de alarme sobre problemas geopolíticos. Dos 10 principais problemas de risco que os especialistas acreditam que se tornariam piores, sete estão ligados ao panorama geopolítico.
As agendas nacionalistas estão criando cada vez mais atrito entre os países, enquanto o comprometimento com as instituições multilaterais está enfraquecendo. Mais de 90% dos entrevistados esperam que o confronto econômico entre as grandes potências aumente em 2019, com uma proporção similar prevendo uma maior erosão das regras e acordos comerciais multilaterais.
O crescente risco social, devido à polarização e à fragmentação política interna, também se destaca como uma preocupação para 2019, que se espera que exerça maior pressão sobre as instituições e que complique o processo de fornecer uma governança estável e efetiva.
Navegando em um mundo fragmentado
O mundo entrou em uma nova e desconcertante fase das relações internacionais. Um círculo vicioso está surgindo: quanto mais os países se comprometem com uma agenda nacionalista e colocam à prova os vínculos do multilateralismo, maior a pressão sobre as instituições e acordos transnacionais, o que, por sua vez, serve para reforçar a necessidade percebida de agendas nacionalistas.
Essas mudanças geopolíticas estão se espalhando para a esfera econômica por meio de tarifas, sanções e outras interrupções no comércio internacional e nas relações de investimento. Um bom exemplo é o relacionamento econômico entre os Estados Unidos e a China, onde o atrito se ampliou de uma disputa comercial para uma amplíssima disputa estratégica. Mesmo o desenvolvimento de infraestrutura, onde existe um consenso generalizado sobre a necessidade de investimento, foi interrompido por agendas políticas concorrentes.
As empresas estão sendo cada vez mais atraídas para o círculo de disputas políticas. Em um grau que nunca vimos nos tempos modernos, eles estão na mira de políticos e potencialmente de legislações de grande alcance. E embora as empresas sejam frequentemente atacadas por serem parte do problema, as sociedades também buscam que o setor privado forneça (ou trabalhe com o setor público para fornecer) soluções para muitos dos grandes desafios, seja da segurança cibernética, novas formas de trabalhar, adaptação ao clima, segurança na aposentadoria ou desenvolvimento de infraestrutura.
Crescentes instabilidades tecnológicas
Tecnologias inovadoras, como a inteligência artificial, a Internet das coisas e a robótica, oferecem claramente o potencial de gerar enormes benefícios tanto para as empresas, quanto para a sociedade. No entanto, à medida que essas tecnologias são cada vez mais integradas aos processos empresariais centrais e à infraestrutura crítica, a exposição a ataques cibernéticos aumenta assim como aumenta a possiblidade de violações massivas de dados, e também de interrupções operacionais. Isto foi refletido na Pesquisa Global aos Diretores do Relatório Global de Riscos, no qual o risco cibernético foi identificado como sendo o que mais preocupa os executivos de negócios em praticamente todas as economias avançadas.
A tecnologia também está cada vez mais entranhada no discurso político dentro e entre os países. O aumento da automação da força de trabalho está retirando vagas de empregos em todas as indústrias, criando problemas políticos internos em muitos países relacionados ao desemprego generalizado e à crescente desigualdade de renda.
A politização da tecnologia
No âmbito internacional, os alarmes políticos estão sendo provocados pelo investimento estrangeiro em setores sensíveis e pelo alcance da implantação de tecnologia estrangeira em infraestrutura crítica. Preocupações sobre dependências sistêmicas e espionagem generalizada são ressaltadas pela avalanche de ataques cibernéticos patrocinados pelo Estado em ativos fundamentais, como a infiltração de hackers russos nos fornecedores de eletricidade dos EUA em julho e outros nas cadeias de fornecimento.
Portanto, à medida que o ambiente tecnológico continua avançando, as empresas não devem apenas acompanhar as melhores práticas de gerenciamento de riscos contra ameaças tecnológicas, mas precisam ser suficientemente ágeis para aproveitar as vantagens e valores sociais da mudança tecnológica. Em outras palavras, elas devem desenvolver a capacidade de recuperação interna e externa para poderem se proteger das crises em sua infraestrutura e modelo de negócios, mas também prosperar no oscilante ecossistema do mercado.
Crescente preocupação ambiental
2018 trouxe mais um ano de tempestades, incêndios e inundações as maiores vistas, porém, em conjunto, causaram menos danos econômicos do que em 2017. O furacão Michael foi o mais intenso a atingir os Estados Unidos nos últimos 50 anos, e o terceiro mais forte em termos gerais; o California Camp Fire foi o incêndio mais letal e destrutivo da história do estado; e a inundação em Kerala, na Índia, foi a pior já ocorrida no estado durante o último século.
O Relatório Global de Riscos 2019 está focado no provável aumento do nível do mar no mundo todo e nos diferentes graus de preparação das cidades mais vulneráveis. Conforme destacado no relatório, a adaptação e a mitigação das mudanças climáticas tornaram-se cada vez mais urgentes, particularmente à medida que aumenta a proporção da população mundial que vive em áreas litorâneas vulneráveis. Em seu recente relatório, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas concluiu que temos apenas 12 anos para fazer transições rápidas e abrangentes em todos os aspectos da sociedade para evitar que o aumento da temperatura global exceda o limite de 1,5 graus Celsius, e evitar consequências ambientais e socioeconômicas significativas. Esta preocupação está totalmente refletida na pesquisa do Relatório Global de Riscos, onde o clima extremo e o fracasso das medidas de adaptação e mitigação do clima dominaram as preocupações de risco a longo prazo.
Dada a incerteza em torno dos acordos multilaterais sobre o clima, os líderes empresariais terão que enfrentar um desafio duplo: responder à crescente pressão dos investidores, clientes e outros participantes para se comprometer com os objetivos relacionados ao clima e desenvolver planos de contingência que antecipem maiores desafios relacionados ao clima.
Muitos poderiam fazer mais para se preparar para as surpresas, diversificando as cadeias de suprimentos, fortalecendo a capacidade de recuperação de sua infraestrutura, antecipando a escassez de recursos e antecipando-se aos desenvolvimentos regulatórios.
O impacto psicológico
O impacto psicológico do aumento da volatilidade e da incerteza não pode ser subestimado, tanto no local de trabalho quanto na sociedade em geral. Muitas das mudanças estruturais no panorama do risco global acarretam uma tensão emocional significativa para indivíduos e comunidades.
De acordo com a análise da Gallup do estado emocional do mundo, o bem-estar humano está se deteriorando, o que é evidenciado por um aumento no índice de experiências negativas, que captura a raiva, a dor, o estresse, a tristeza e a preocupação nos últimos cinco anos. Isto apresenta uma série de desafios potenciais para as empresas, desde greves e outras interrupções na força de trabalho até a reação das redes sociais dos clientes a problemas mais amplos de reputação.
Os líderes organizacionais devem entender os fatores que promovem o bem-estar em um ambiente em rápida evolução, se quiserem gerenciar e reduzir o risco de capital humano, e desenvolver produtos e serviços que correspondam à mentalidade emergente em questões críticas.
As transformações relacionadas ao local de trabalho, como interrupções devido à automação, que afetam a renda e o bem-estar dos funcionários, devem ser uma abordagem importante. Muito disso pode ser gerenciado e aliviado por meio de um planejamento da força de trabalho mais efetiva, benefícios e incentivos.
O novo Relatório Global de Riscos revela um mundo de mudanças extraordinárias, complexidade e fluidez. Os líderes precisam flexibilizar os seus modelos de negócios, processos de gestão de riscos e cultura corporativa, se quiserem prosperar neste meio.