Paulo Guerreiro
Specialty Director, Oil & Gas, Marine, Cargo & Aviation
A grave estiagem no Norte do Brasil já é a pior em décadas: o Rio Amazonas e seus principais afluentes já estão em níveis críticos. Como a região concentra rotas de navegação estratégicas, o cenário sinaliza a iminência de uma crise de abastecimento.
No caso do Rio Amazonas, temos um impacto direto no transporte de cargas do polo industrial de Manaus. Já o Rio Madeira, um dos principais afluentes, é o principal corredor de exportação de grãos do estado de Rondônia e também escoa parte da produção do Centro Oeste.
Geralmente a hidrovia do Madeira permite a navegação de grandes comboios com até 18 mil toneladas, mesmo em tempos de estiagem. Porém, devido à falta de chuvas, o nível do rio vem baixando de forma acentuada desde 2021 e agora chegou a números históricos.
Para se ter uma ideia, em maio de 2022 o nível de 11 metros já era considerado crítico. Em setembro, a cota foi reduzida a 1,94 metro e em outubro subiu para apenas 3,10 metros. De acordo com a Defesa Civil, em alguns pontos já podem ser vistos bancos de areia e pedregais no meio das águas.
Nesse cenário, as embarcações estão limitadas e seguindo com cargas reduzidas quase pela metade. O tempo de viagem também aumentou: o percurso de um dia, por exemplo, agora dura por volta de 3 dias. Já navegação noturna está proibida devido à ocorrência de bancos de areia que podem causar acidentes e encalhar embarcações.
O fluxo no Madeira não deve ser liberado enquanto o nível do rio não superar 5 metros. As perspectivas não são otimistas: pelo menos pelos próximos 2 meses, a situação não tende a melhorar muito. Apenas um grande volume de chuvas poderá começar a reverter a situação crítica.
O impacto da estiagem do Rio Amazonas na cadeia de abastecimento brasileira vai além das fronteiras regionais. A hidrovia integra uma logística intermodal por meio do serviço de cabotagem, cuja rota cruza toda a costa brasileira, tendo como destino final Buenos Aires, na Argentina.
Por isso, na prática o problema afeta toda a rota de alimentos e bens de consumo, no sentido Northbound com destino às regiões Norte e Nordeste, partindo do Sul e Sudeste. Além disso, a própria produção da Zona Franca de Manaus pode ser comprometida por falta de insumos.
As variações de nível do Rio Amazonas e seus afluentes sempre foram uma particularidade da região. Em junho do ano passado, a situação era totalmente oposta: o Rio Negro, por exemplo, passava por uma cheia e a orla de Manaus alcançou a marca de 29,75 metros. No início de outubro deste ano, o nível caiu para 13,56 metros – o pior índice em 100 anos. Em novembro, recuperou-se para 17,65 metros.
Já no Rio Madeira, o recorde de estiagem foi registrado em 2005, quando o nível chegou a 1,36 metro. Em contraponto, na cheia de 2014 o rio transbordou, inundou a BR-364 e engoliu comunidades ribeirinhas e bairros da capital, destruindo imóveis e empresas.
De qualquer maneira, não podemos negar que esses fenômenos vêm apresentando contornos mais extremos e frequentes – indicadores do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam para o menor volume de chuvas no Amazonas dos últimos 15 anos. Trata-se de uma consequência direta das mudanças climáticas, que alteram os padrões de precipitação de chuvas a ameaçam as atividades produtivas.
Em um contexto de instabilidade climática cada vez mais presente, o seguro paramétrico pode ser uma ferramenta interessante para mitigar a volatilidade da receita e impactos no fluxo de caixa gerados por eventos climáticos inesperados.
Essa modalidade de seguro é construída em torno de um índice mensurável baseado em parâmetros predefinidos (daí vem o nome), sem a necessidade de danos físicos para ser acionado.
Por exemplo: para os produtores que escoam sua produção pelo Madeira, os efeitos físicos diretos da diminuição do nível da água podem ser inexistentes, mas os impactos financeiros da perda de receita associada podem ser críticos para o resultado da companhia.
Neste caso, podemos construir uma cobertura paramétrica baseada no nível do rio, de maneira que o impacto financeiro gerado pela falta de navegabilidade é suavizado pela indenização do seguro.
É um produto de abrangência ampla, capaz de atender diversas situações relacionadas ao clima como: excesso ou falta de chuva, vento, sol, temperatura, entre outros. Vale como solução para riscos climáticos que possam ser atrelados a um índice, independentemente do setor, podendo ir da logística ao agronegócio ou da infraestrutura à ao setor de energia.
· https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/08/22/nivel-do-rio-madeira-esta-abaixo-da-media-para-essa-epoca-do-ano-aponta-defesa-civil.ghtml
· https://www.tudorondonia.com/noticias/defesa-civil-mantem-alerta-para-seca-do-rio-madeira,94439.shtml
· https://rondoniaovivo.com/noticia/geral/2022/10/30/seca-estiagem-no-rio-madeira-continua-e-restringe-navegacao.html
· https://cieam.com.br/vazante-do-rio-madeira-preocupa-o-setor-de-navegacao
· https://www.guiamaritimo.com.br/noticias/cabotagem/servico-de-cabotagem-ligara-portos-de-porto-velho-e-manaus
· https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/black-friday-2022-quais-as-expectativas-para-este-ano
· https://www.ecodebate.com.br/2021/10/05/mudancas-climaticas-tornam-as-enchentes-e-secas-mais-extremas/
· https://www.marsh.com/br/services/climate-change-and-sustainability/insights/how-to-face-heavy-rains-with-safety.html
· https://www.marshmclennan.com/insights/publications/2018/dec/parametric-insurance-tool-to-increase-climate-resilience.html
· https://portalamazonia.com/estados/amazonas/saiba-quais-foram-as-secas-recordes-do-amazonas#:~:text=A%20seca%20que%20ocorreu%202010,maior%20seca%20em%20cem%20anos.
Specialty Director, Oil & Gas, Marine, Cargo & Aviation